POLÍTICA DO AMANHÃ. REDESENHAR FUTUROS É UMA TAREFA DO AGORA!

“Esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é construir, esperançar é não desistir! Esperançar é levar adiante, esperançar é juntar-se com outros para fazer de outro modo…”

Paulo Freire, “Pedagogia da Esperança”, 1992

Não sei se você já leu ou escutou essa frase do educador e filósofo Paulo Freire, mas, por aqui, ela acompanhou nossas entrevistas, análises e conversas entre a equipe. Não por acaso, o esperançar é uma visão de mundo presente nos jovens inovadores da política brasileira, já que desistir não é uma opção: reconhecem a urgência do presente e o legado de suas atuações para o desenvolvimento de futuros mais inclusivos, participativos, sustentáveis e plurais. 

 

Mas sabemos que não está fácil sonhar.  Com a pandemia da Covid-19, a gestão do governo atual, seus retrocessos e a emergência climática, notamos,  diariamente, a confirmação das desigualdades e da necessidade de novas práticas e valores para o enfrentamento desses desafios globais. No Brasil, jovens estiveram à frente das Jornadas de Junho, em 2013, e, depois, das manifestações dos estudantes secundaristas, em 2016, fazendo parte também das greves globais pelo clima, das manifestações antirracistas, do Acampamento pela Vida indígena, em Brasília,  e mobilizando-se em múltiplas ações. Esses fatos recentes demonstram a vontade das juventudes em participar da construção do agora frente à falta de representatividade nas tomadas de decisão — principalmente quando falamos de grupos tradicionalmente marginalizados, como pessoas negras, indígenas e LGBTQIA+.

Com essa galera no front, temos a oportunidade de aprender e reconhecer a potência das juventudes para a reconstrução de narrativas sobre Direitos Humanos e democracia, espaços colaborativos de participação social e construção de diálogos através das tecnologias digitais, sociais e cívicas para a despolarização e imaginação política.

Para Patricia Zanella, jovem ativista, ecoempreendedora e que foi candidata à vereadora em São Paulo, as/os jovens precisam acreditar em suas potências:

A política do futuro vai ser esse cenário cada vez mais normal. Nós comunicarmos política e aceitarmos que, de fato, tudo é um ato político. É importante a gente imaginar que nós, mesmo sendo jovens, somos muito capazes, sim, de fazer coisas difíceis e mesmo assim brilhantes.

Estamos vivendo um momento histórico! A nova atuação de jovens na política institucional e eleitoral  traz diversas possibilidades para a reconstrução da nossa confiança na política. Novas lideranças inovadoras precisam ser fortalecidas para não darmos nenhum passo atrás.

Muitos jovens ainda estão desinteressados pela política, principalmente essa que é feita dentro das Câmaras, Congressos, Assembleias. Sabemos que há um grande desafio pela frente. Mas, também conseguimos reconhecer que quando temos mais #JovensNoPoder muita coisa muda: ao fortalecer o protagonismo dos jovens na política, oferecemos a capacidade de reimaginação do presente e do futuro, dando espaço seguro e saudável de participação, escutando suas demandas e colocando-os no centro da construção, estamos também fomentando a criatividade para as urgências coletivas e renovando o interesse pela democracia.

Conseguimos sentir a força das juventudes na COP26 e em tantas outras movimentações. Agora é agora de redesenhar o rumo da política!

"Apesar das diferenças, a gente está encontrando caminhos de convergência para a gente poder construir uma pauta coletiva de verdade."

Dani Monteiro, deputada estadual, Rio de Janeiro (RJ).

Assim como Paulo Freire, mencionamos Marielle Franco, vereadora eleita que pautou e inspirou o empoderamento de mulheres negras, comunidade periférica e LGBTQIA+ na política; Joênia Wapichana, primeira deputada federal indígena no Brasil; Ailton Krenak, escritor e ambientalista que fez história com seu discurso na Constituinte de 1988; movimentos sociais pautados pela  equidade racial e de gênero; personalidades políticas, que são a memória viva da história política brasileira e que compõem o imaginário desses jovens que veem estas referências como grandes inspirações para esse novo patamar de atuação política. Valorizar diferentes saberes, trajetórias, reconhecer esse ecossistema e trocar experiências entre tais atores e atrizes deve ser algo necessário e constante para a reconstrução e reimaginação da política.

A inovação política, quando entendida e praticada segundo a perspectiva de justiça social, deixa heranças positivas para a nossa cultura política, impactando não só gerações, mas relações sociais e políticas, que se tornam cada vez mais abertas à pluralidade de saberes. 

 

Eu devo parte dessa decisão [de entrar na política institucional] também à trajetória de Marielle, a esse fato trágico que acometeu à vida dela e interrompeu sua carreira. Eu me considero uma semente de Marielle aqui na Bahia.

Danilo Santana,
vereador em Santa Terezinha (BA)

Eu sei que sou fruto desse movimento, fruto dessas articulações e da compreensão de que precisamos da presença de mulheres negras, de mulheres jovens, entrando mais nessa questão da juventude na política.

Joyce Trindade , 24 anos,
Secretária de Políticas e Promoção da Mulher no Rio de Janeiro (RJ)

É isso, somos a semente da Marielle Franco, com toda certeza, tanto nas partes ruins, por sofrer da mesma coisa, tanto nas partes boas, de saber que eu nunca serei livre se as amarras de todas as mulheres, mesmo que sejam diferentes das minhas, que é a última frase que ela falou na atividade.

Estela Balardin, 21 anos,
vereadora em Caxias do Sul (RS)

Chegamos ao ponto de lançar o nome que mexesse com toda uma estrutura de Estado e com estrutura de comunidade, e esse nome era, então, o da deputada Joênia. Ela tem esse processo histórico de 20 anos, principalmente da demarcação da Raposa Serra do Sol. Com o nome dela, começou a criar uma grande mobilização, tanto de jovens, professores, mulheres, pessoas voluntárias. Por isso que, para a gente, 2018 marca tanto: pelo processo todo que aconteceu. Ainda mais com o cenário político do país, em uma crise política da eleição do atual presidente, mas também das eleições anteriores, que demonstravam tempos muito difíceis para a nossa gente, para os povos indígenas.

Ariene Susuí, 23 anos,
candidata a vereadora em Boa Vista (RR)

PRECISAMOS FAZER BARULHO E TRAZER PROPOSTAS PARA A MESA

Para redesenhar o rumo da política, temos um desafio grande nas mãos: a emergência climática. Aqui, não há espaço para negacionistas, porque essa é uma questão do nosso tempo, é real, comprovada cientificamente e pelo dia a dia. As juventudes, além de sentirem o impacto constante, estão com toda a disposição e vontade de participar das decisões políticas que vão definir seus futuros – e, diga-se de passagem, não só para elas, mas para a manutenção da vida.  É preciso agir, e rápido! Os/As jovens da política têm algo a dizer sobre isso e é necessário que você  pare e escute. 

Txai Surui tem 24 anos e é do estado de Rondônia, região norte do Brasil. Fundadora do Movimento da Juventude Indígena do seu estado, a estudante de Direito foi a única brasileira a discursar na Conferência da ONU sobre Mudança Climática, COP26, que aconteceu em Glasgow, em 2021 . A ativista indígena brasileira disse que os líderes globais “fecharam os olhos” para a mudança climática. Ela falou antes mesmo do secretário-geral das Nações Unidos, António Guterres, e fez um apelo por uma ação climática efetiva, agora, “não em 2030 nem 2050”.

QUAL MENSAGEM VOCÊ DARIA PARA OUTROS JOVENS EM RELAÇÃO À EMERGÊNCIA CLIMÁTICA?

Para redesenhar o rumo da política, temos um desafio grande nas mãos: a emergência climática. Aqui, não há espaço para negacionistas, porque essa é uma questão do nosso tempo, é real, comprovada cientificamente e pelo dia a dia. As juventudes, além de sentirem o impacto constante, estão com toda a disposição e vontade de participar das decisões políticas que vão definir seus futuros – e, diga-se de passagem, não só para elas, mas para a manutenção da vida.  É preciso agir, e rápido! Os/As jovens da política têm algo a dizer sobre isso e é necessário que você  pare e escute. 

É urgente. Eu falaria para os nossos jovens se dedicarem com relação a isso, entenderem sobre essas questões. Hoje, existe muita questão de fake news relacionada a isso, desde fake news dizendo que essa questão de aquecimento global não existe. Então, eu diria para os nossos jovens se dedicarem, estudarem, conhecerem sobre essa realidade que a gente vive, entender sobre as ODS também, se aproximar dessas pautas para lutar com relação a isso. Não precisa exatamente estar num cargo público, numa representação como vereadora ou qualquer outro cargo político para isso. Eu posso fazer isso no meu dia a dia, na minha comunidade, na minha casa, na forma como eu descarto o meu lixo, enfim, na forma como eu consumo. Eu deixaria essa mensagem para a nossa juventude: que eles se informassem e que eles se dedicassem em lutar para fortalecer essas questões.

Luma Menezes, 25 anos,
vereadora em Alagoinhas (BA)

A gente tem que se preocupar com o clima, com a forma que vamos nos posicionar no mundo e de que maneira queremos deixar esse mundo. Nesse sentido, pensar no clima, na emergência climática para os sujeitos, principalmente, jovens, é falar de uma questão necessária e fundamental. É falar de um princípio básico e, acima de tudo, de sobrevivência. Se queremos sobreviver nesse mundo, se queremos deixar o mundo melhor ou até viver em um mundo melhor - porque temos visto que as questões climáticas não são uma questão do futuro, são questões do presente -, se queremos amenizar esse impacto climático para as futuras gerações e até para a nossa, que já está sendo vítima, temos que pautar ações práticas, nos posicionar no sentido de promover ações.

Danilo Santana, 23 anos,
vereador em Santa Terezinha (BA)

Os rios nasceram a partir de uma mulher que estava tendo uma criança e, na hora em que rompeu a bolsa, por onde ela foi passando, foi se formando os rios. Por isso que, para nós, ela é símbolo de mãe d' água, representante da água mãe da água. Nós, indígenas Umutina, acreditamos que todo ser da natureza tem um espírito que cuida dele, a gente deve respeito. Por isso que eu digo que devemos respeitar a natureza. Tem uma frase que diz: quando o último rio secar, quando o último peixe for morto, quando a última árvore for cortada, aí sim as pessoas vão aprender que dinheiro não se come. Assim como cuidamos do nosso corpo, do nosso bem-estar, nós também temos que cuidar da natureza, porque ela faz parte da gente, ela faz parte de nós, enquanto sistema. É de lá que, enquanto população indígena, tiramos os remédios tradicionais, é da natureza que tiramos os elementos para fazer nossas danças, as nossas pinturas, a nossa cultura. Tem que ter esse reconhecimento da natureza enquanto parte essencial para a vida.

Lennon Corezomae, 31 anos,
vereador em Barra do Bugres (MT)

Se eu pudesse, agora, me dirigir a cada jovem espalhado pelo Brasil e pelo mundo afora, eu diria que o futuro das novas gerações depende das nossas ações. Que a preservação do meio ambiente, os leitos dos rios, da mãe natureza, é imprescindível para a construção das futuras gerações, para que possamos viver harmoniosamente em climas saudáveis, para que nós venhamos a combater a marginalização da floresta amazônica, do desmatamento, a preservação da natureza, para que nós venhamos a ser contra o extermínio da população quilombola, ribeirinha, das populações dos povos indígenas. Que nós sejamos agentes transformadores.

Wesley Souza, 22 anos,
vereador em Itaueira (PI)

Comprometimento político com a vida dos outros é a gente estar alinhada às pautas ambientais de hoje, no Brasil. E pautas que não sejam pautas colonizadoras, principalmente para nós, os povos da Amazônia, que estamos morrendo pelas escolhas climáticas que outras pessoas que não são da nossa região tem feito. E por esse capitalismo que é cada vez mais financeiro, mas, principalmente, cada vez mais assassino e genocida.

Bia Caminha, 22 anos,
vereadora eleita em Belém (PA)

A gente está perdendo espaço nesse campo político, porque as pessoas, muitas vezes, o discurso mesmo do meio ambiente, da sustentabilidade, ele ficou muito elitizado e distanciou as pessoas. Quando eu estou falando de meio ambiente, eu estou falando de saneamento básico, estou falando de comida de qualidade na mesa de todo mundo, estou falando de menos agrotóxico no nosso prato, estou falando das crianças realmente tendo horta na escola, vivendo uma nova realidade.

Patricia Zanella, 25 anos,
candidata a vereador em São Paulo (SP)

A gente está perdendo espaço nesse campo político, porque as pessoas, muitas vezes, o discurso mesmo do meio ambiente, da sustentabilidade, ele ficou muito elitizado e distanciou as pessoas. Quando eu estou falando de meio ambiente, eu estou falando de saneamento básico, estou falando de comida de qualidade na mesa de todo mundo, estou falando de menos agrotóxico no nosso prato, estou falando das crianças realmente tendo horta na escola, vivendo uma nova realidade.

Patricia Zanella, 25 anos,
candidata a vereador em São Paulo (SP)

E PARA VOCÊ, QUAL É A POLÍTICA DO AMANHÃ?

O amanhã que eu espero tem políticas interseccionais e intersetoriais, em especial, porque aí conseguimos de fato projetar possíveis mudanças. Se continuarmos nas caixinhas políticas, isso eu trago desde o legislativo ao executivo, não conseguiremos mudar.

Joyce Trindade

A política tradicionalmente conhecida já não reflete a pluralidade de corpos, saberes, cores e vivências. A teimosia criativa dos jovens inovadores é uma das forças que pulsam e bombeiam esperança, transparência e perspectivas que promovem uma mudança de paradigma na forma de fazer e ver a política. Ao reivindicar novos modelos, com pessoas diversas, processos descomplicados, práticas colaborativas e valores democráticos, unem agendas que extrapolam sua geração e, ressignificando tecnologias sociais com o mundo global digitalizado, reúnem vozes plurais para construir conjuntamente esse futuro. 

O PRESENTE E O FUTURO DEPENDEM DE QUE #JOVENSNOPODER REDESENHEM O RUMO DA POLÍTICA, AGORA!

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